domingo, 23 de maio de 2010

inovação = idéias. Esteja preparado para elas!


Estou lendo um livro chamado “O ócio criativo”, de Domenico de Masi, para uma disciplina da pós. Confesso que este livro está pirando minha cabeça. Ele fala de muita coisa, mas em linhas gerais de como e porque os únicos trabalhos que serão mantidos são aqueles ligados à criatividade, inovação, pensamento, como cientistas, jornalistas, designers, etc. Estas profissões serão valorizadas, pois a parte técnica e mecânica será cada vez mais delegado às máquinas. E que o trabalho “perfeito” é aquele que mistura trabalho, estudo e jogo. Por exemplo, uma equipe que vai gravar um filme: atores, diretores, roteiristas, câmeras, etc todos trabalham, precisam estudar, se manter atualizados, mas ao mesmo tempo se divertem durante o trabalho, e aprendem.

No laboratório também tem muito dessa tríade trabalho-estudo-diversão. Especialmente porque orgulhosamente faço parte de uma equipe ótima, brilhante, e nos divertimos muito no cubículo dividido atualmente por seis pessoas. Cada um sabe do trabalho do outro, aprende, dá palpite, segura as pontas. Agora o comboio para o lanche aumentou de dois (eu e Ju) para cinco (eu, Ju, Milena, Fernanda e Maíra)!!! Tudo bem que raramente saímos as cinco juntas, mas não menos que três. E é impressionante como na hora do lanche também falamos de... trabalho. É um gel que não deu certo, muitas análises no Scalibur para fazer, as pipetas que estão endurecidas... às vezes fico me achando um pouco chata de só ficar falando disso, mas fazer o quê, sempre fica na minha cabeça! Tudo bem, claro que temos espaço para falar amenidades, como as séries Glee, Dexter, e na última sexta tivemos um debate acalorado sobre novelas (e você, assume que assiste à novela?)

De Masi também fala que boas idéias vêm a qualquer momento e lugar, sob qualquer estímulo. Estava lendo mais um capítulo para a disciplina e... voilà! Me surgiu uma idéia para um conto, ou uma crônica. A idéia para este post surgiu à 1 da madrugada de um domingo, que eu não conseguia dormir, com insônia. Poderia ter ficado rolando na cama, ou ido assistir a TV, mas o que fiz? Levantei, papel e lápis na mão e fiz um rascunho. Percebo que essas idéias me vêm com freqüência um pouco antes de dormir, quando fico na cama, pensando, esperando o sono vir. E o que aprendi com o livro é respeitar e aproveitar esses momentos particulares para trazer à tona as questões para as quais preciso de respostas. E principalmente, anotar. Deixar um papel perto da cama, ter qualquer rascunho à mão, e anotar. Idéias são fugazes, se deixar para anotar depois, a sua essência já se foi. E escrever instiga a pensar, força a mente a desenvolver a idéia.

Idéias também podem vir da necessidade. Me orgulho de uma pequena invenção, para resolver um problema no lab. Eu chamo meu dispositivo de adaptator tabajara. [ainda não vou contar antes de tirar umas dúvidas quanto ao direito autoral com a agência UFRJ de inovação. Já deve existir algo similar, mas não vou dar bobeira...]

Às vezes fico frustrada de não conseguir acompanhar tudo, ler tudo, visitar tudo que é interessante e que poderia despertar varias idéias. Queria que minha cabeça fosse um pendrive de 100GB. Mas como lidar com frustrações é uma arte, vou mantendo a calma, aproveitando aquilo que eu consigo absorver e sempre, sempre discutindo novas (e velhas) idéias.

As nuances do percoll


Apesar de não usar mais o percoll para separar minhas células, queria deixar um registro da minha experiência com esse reagente.

O percoll é um colóide feito com micropartículas de sílica, recobertas com um polímero, (PVP – polivinilpirrolidona) cuja função é deixar o colóide atóxico para as células. Existem protocolos bem estabelecidos especialmente para separar linfócitos, monócitos ou outras células do sangue.

Muito bem, você decidiu trabalhar com percoll, pois viu um artigo da sua área que utilizava este método de saparação. Com o reagente em mãos, basta diluir para as concentrações do artigo e... nada disso. Primeiro, vá no site do fabricante e faça o download do datasheet (arquivo que contém informações sobre o produto). Você verá que o pH do percoll da garrafinha é 8,9 e a osmolaridade de aproximadamente 32 mOsm! Ou seja, é para matar qualquer célula.

Eu diluía o percoll em uma solução antiagregante (que impede que os hemócitos da ostra agreguem) e pensava que automaticamente o pH e a osmolaridade se ajustassem. Engano meu: continuava básico. Bastava então corrigir o pH com HCl, certo? Só que o HCl faz o percoll virar uma gelatina branca, pois altera a densidade. Mesmo usando um HCl muito diluído, precisaria de um volume grande, o que também alteraria a densidade. Para resolver esse pepino, é preciso diluir o percoll em alguma solução tamponada, ou seja, que possua algum reagente capaz de regular o pH (como o hepes, que é o que uso, ou algum PBS) inicialmente. Como o antiagregante não tem ação tamponante, o pH continuava alto.

Já a osmolaridade é mais complicada, principalmente se você não tem um osmômetro por perto. A saída é fazer diálise (li esse processo em artigos que separavam hemócitos de ascídias), colocando o percoll em uma sacola de plástico semipermeável e deixar agitando overnight na sua solução, com a omolaridade desejada. Porém, há um jeito mais fácil. Basta diluir nove partes de percoll mais uma parte de NaCl a 1,5M. A osmolaridade final fica em torno de 320 mOsm, que é a osmolaridade do meio de cultura que uso (Leibovitz L-15). Queria ter a oportunidade de medir esta diluição final em um osmômetro, só para garantir, mas não conheço ninguém que possua este aparelho lá na faculdade.

Pronto, pH e osmolaridade acertadas, agora é só fazer as diluições necessárias para um gradiente de percoll, contínuo ou descontínuo. E não se esqueça como o percoll de trabalho é 90%, caso você use concentrações em porcentagem.

Segredinho: tive todas essas dicas ao enviar um email para o suporte técnico da Sigma-Aldrich (email em inglês, sure). Eles são fantásticos, sabem muito e são super prestativos. Eu sei que diariamente exercitamos nossa capacidade de raciocínio para solucionar problemas, mas quando trabalhamos com um reagente, kit ou aparelhos novos, além da importância de ler o MANUAL, vale a pena ter contato com o pessoal do suporte técnico, pois no caso dos reagentes, nem todo datasheet é completo. Assim, economizamos tempo precioso e nos dedicamos ao que realmente interessa: nossos experimentos!